quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Lá das terras lusitanas, surge um amigo. Só dele tenho armazenado mais de 200 poemas/sonetos. Aqui apresento Eugénio de Sá, de Lisboa, Portugal, procurando dar um caráter internacional neste blog que tem como patrono Pablo Neruda.

Eugénio de Sá


TER-ME-ÁS

São muitas milhas de mar
Muitos batimentos d´asa
Mas chegar, tu vais chegar
E sentir-te-ás em casa

E aqui, nos braços do amor
Onde será o teu ninho
Esquecerás a tua dor
Feliz, cantarás baixinho

Os versos que não cantaste
Nas paragens tropicais
Os versos que mais sonhaste

Vão ser os teus madrigais
E o amor que acarinhaste
Nunca te será demais!

Eugénio de Sá, Lisboa, Portugal

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Emanuel Medeiros Vieira sabe, como ninguém,descrever em um poema, todo o seu sentimento relacionado ao Amor.



A MULHER E O PEREGRINO
    EMANUEL MEDEIROS VIEIRA(*)
       
Apenas peregrino/pulsante,
        “é vermelha, cor do sangue” – ela diz,
        jogando a calcinha no tapete,
        contemplo o matagal
                             sal da vida
                             úmido
                             pêlos encrespados,
      teus gemidos cortam a tarde, como um túnel,
      meu dedo em romaria no teu útero
                                                     matriz de tudo
                                                     “mater” minha
     cachorro late ao longe, ronco de um caminhão,
     o tempo zomba de nós,
     lambes  – lúbrica – a língua,
     viva!, a Portuguesa, e esta que me arrepia agora.
     Bússola afetiva: decifro (?) o mapa do teu corpo
      (vacina de infância),
     minha sina, minha mina,
     estupidamente comovido,
     cumpro a jornada – esta vida.
   
     Fatigado e celebrante,
     vivo a vertigem – passageira.
     Lembro do poeta:
     “Nós que devemos morrer, exigimos um
       Milagre”. (W. H. Auden)
     Grito “primal” pós-coito,
    cheiros que se contaminam – perfume paraguaio,
    esperma, suor,
    ah, vida,  urina, outros odores.
    Contemplo tuas axilas raspadas,
    teus olhos tão negros que parecem um bisturi
   afetivo – eles tudo enxergam,
   palavras não ditas – fêmea que não se revela.

  Sim: como Rosa disse,
  amar não é verbo, mas luz lembrada.

 Quem és tu?
 Quem sou eu?
 Quem somos nós?
 Nunca saberemos.
Analfabetos das emoções: para sempre.

Uma sinfonia neste anoitecer,
quase sempre silenciosa.
Serenados estamos.

Mordes uma maçã, o livro entreaberto entre as coxas, lês: “Se Deus morreu tudo é permitido.”
Corpos entrelaçados, estamos tão perto Dele.
Dure, energia!, imploro.
Ajoelho-me e oro.
Lambo tua umidade, um gosto de sal (mar da
 infância), ris de olhos fechados, longas pernas,
 cabelo oxigenado,
 tão sincera/tão simulacro,
és bela-bela,
amorável mulher,
Deus desaparece, depois reaparece,
saciados, molhados, mortais,
vulcânica posse, abro mais esta fenda,
puxo os teus cabelos, com rudeza e doçura
(sim, sempre ambivalente),
um fio branco cai no meu peito, passamos, envelhecemos, e vamos todos morrer.
Extenuado, indago com Freud: “Afinal, o que querem as mulheres?”
Suplicante, gemes mais baixinho,
subalterna, ficas de quatro,
respondes: “O mesmo que os homens.”

Calcinha no ombro, cor de sangue, lépida –
garça vespertina –,
vais ao banheiro, olhos fechados, tudo é noite.
Já posso partir, e a memória do teu corpo
me inunda.

E direi: “Vivi como um peregrino e, mais tarde,
um surpreendente e definitivo passo darei ao morrer.”
(Palavras escritas no mármore branco da minha
peregrinação.)
(*) poeta catarinense, atualmente radicado na Bahia.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

NINHO DE AMOR





NINHO DE AMOR


No Chile, em 2008, em La Chascona (Santiago), com outros turistas e familiares, visitei o ninho de amor de Neruda e Matilde.
Comprei o postal já que não se podia fotografar.
         Senti uma emoção muito forte ao ver aquela cama, com a colcha de crochê, os desenhos apresentando Matilde na parede e a própria atmosfera em que se sente o Amor no ar.
Todas as dependências das três casas quase que geminadas, me encantaram.
Ali havia vivido o poeta do Amor, o poeta que é o patrono deste blog, o poeta que cantou o amor por uma mulher, aos olhos do mundo, proibida, mas que ele levou adiante, pois a amava acima de tudo.
Hoje, dando um passeio pelas imagens no meu computador, deparei-me com esta foto e resolvi escrever algo.
Sobre o Amor o que se pode escrever?
Dizem os poetas, os escritores, que se pode escrever muita coisa sobre o Amor, pois ele se apresenta de muitas formas: o amor-paixão; o amor filial; o amor fraterno;  o amor amigo; o amor cristão e tantos outros que se poderia numerar.
Mas, nesse dia, o que me interessava era o amor de Pablo por Matilde, pois ali estava como a vê-los no doce idílio.
Ali estava o ninho onde todas as carícias  se revelaram, todos os beijos foram dados, os dois corpos se uniram na volúpia da paixão.
Ali estava presente o perfume dos corpos ausentes, ali estava a cena não revelada, mas imaginada.
Tempo curto de observação, pois eram grupos que visitavam enquanto outros esperavam para compartilhar o ambiente, aquele ambiente que não me sai da memória.
Ali vivi, por breves momentos, um amor que varou a eternidade: a paixão de Pablo e Matilde.
Maura Soares, aos 15 de janeiro de 2013, 18.52h

sábado, 5 de janeiro de 2013

Deletando coisas passadas, deparei-me com um quadro e veio a inspiração.





                                                                Ernst Philippe Zacharie
NUA

Nua, assim ela o esperava todas as noites
Frias, quentes, com chuva ou ventania...
Nua, ela esperava o amado que havia prometido
Promessas vãs, simples promessas...
Mas a esperança a acompanhava

Ele não era dono de sua alma
Alma atormentada pelas amarras da vida
Alma angustiada que vivia a romper-se em soluços
Tristezas por não poder ver a amada
Que, nua, o esperava para a entrega total do amor
Nua, despida de razão, pensamentos só para ele
Nos seus carinhos, nos seus beijos, no encontro dos corpos...
Triste sina, a distância os separava e ele também ansiava
Pelo corpo da amada, pelas carícias, pelos beijos
Pelos carinhos, corpos entrelaçados na volúpia do amor

A  noite já em meio...
Batidas leves na porta...
Nua, enrola-se num robe e abre a porta
Ei-lo que chega...
Braços a enlaçam, o robe cai

Seus corações agora são um só.

Maura soares, aos 5 de janeiro de 2013, 19.41h

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

FAZIA TEMPO...

FAZIA TEMPO...

Fazia tempo que não escrevia mais nada. Acúmulo de coisas para fazer, final de ano, os eventos se atropelando, pequenos acidentes que me deixaram sem poder participar dos eventos das instituições co-irmãs do GPL, enfim, uma gama de atividades, minha cabeça girando tentando organizar a festa de fim de ano, os dois concursos literários promovidos que deram um trabalho enorme...mas tive o suporte da comissão que sempre são meus braços e meu amparo.
Até poesia fiz pouco.
Terminei o livro do Grupo que, no aniversário de 15 anos, será lançado. A Revista Ventos do Sul do segundo semestre já está sendo enviada.
No final do ano, amigos pedindo pra que eu fizesse apresentações de seus livros, que não me furto, pois é um privilégio e me sinto abraçada quando me pedem e procuro ler com carinho tudo o que recebo.
Devido a forçada imobilidade, tenho lido bastante, jornal, livros, revistas...assim aproveito pra colocar em dia as leituras.
Recebi a visita de um amigo poeta que estava prometendo vir e finalmente, pode. Foi gratificante pois manteve contato com o pessoal do Grupo, interagiu, viu como fazemos as nossas festas, conheceu duas praias do continente, fotografou... deve ter gostado pelo pouco tempo.
Até que numa tarde, veio a inspiração e consegui fazer um poema.
Quando tenho a intuição ou "alguém" me dita algo, logo corro pra escrever, pois as ideias nos traem.
Então sairam dois poemas que transcrevo, finalizando a produção de 2012:


O MARINHEIRO
Desde menino ele ansiava ir ao mar.
Com seu barquinho brincava
e  sonhava, e sonhava...
Mas...
não pode realizar seu sonho.
Obediente menino, ficou a saudade
de outras eras quando fora um viking vigoroso
que atravessava os mares para novas terras conquistar.
Amou uma mulher proibida;
fez de seu corpo o que quis
e sua alma dilacerou
quando partiu para outras terras,
outras mulheres para conquistar.
E aquela que foi amada e largada
ainda fica no cais
à espera do seu guerreiro
que espera para seu leito compartilhar.
Ela sonha acordada, à noite.
Seu travesseiro é testemunha de sua antiga dor.
Chora baixinho, sufocando cada lágrima,
dizendo pro seu coração e ansiando para
que seu amado ouça também:
“Vem, meu marinheiro, e faz do meu corpo, da minha vida,
 o teu mar, onde possas navegar tranquilo
e poder dormir a noite toda, sem dores,
só com meus amores
e os meus braços a te enlaçar.”
Maura Soares, aos 10 de dezembro de 2012.


ANTES...

Antes de ti, eu não era e nem vinha a ser
Fugia do amor com temeridade
Ansiando por amar, mas com receio da maldade
Dos homens sem escrúpulos
Dos homens que chegavam e logo partiam
Deixando em meu coração a saudade
E em meu corpo o desejo reprimido

Antes de ti, eu não era e nem vinha a ser
A mulher que eu desejava, a amante alucinante
A mulher com alma, com espírito devoluto
Longe dos preconceitos
A mulher que queria amar sem reservas sem pudor
A mulher que se abria, que ria, que chorava de alegria

Antes de ti, eu não era e nem vinha a ser
A amante, a que deseja e é desejada
A que ama e é amada, longe das coisas fugidias
Longe das coisas banais

Antes de ti...
Antes de ti...

Agora, contigo,  sei o que sou.

Maura Soares
Aos 29 de dezembro de 2012, 19.28h