sábado, 26 de fevereiro de 2011

Há poemas que a gente aprecia, ficando até como se fosse o carro-chefe. E assim me aconteceu com “Pianíssimo”. Este poema surgiu quando eu assistia Pedrinho Mattar, ao piano, em um programa gostoso em que ele apresentava cenas de filmes entremeadas com seus acordes ao piano, na Rede Vida. Numa bela noite, veio a inspiração.
Este poema teve a releitura do poeta Neomar Narciso Borges Cezar Júnior com o título “Com a lua na janela”. Presenteou-me em uma festividade do Grupo de Poetas Livres.

PIANÍSSIMO
O som do piano
            se espalha na noite
            vazia, soturna...
O artista, solitário,
            dedilha a última sonata
            antes que a noite acorde.
Seus dedos correm pelo teclado e,
            entre as brancas e pretas,
            o som invade a obscuridade.
Ao longe, alguém abre a janela.
O som penetra no quarto
            invadindo a privacidade
            de, quem sabe, outro solitário ser.
O som do piano
            se espalha pela madrugada...
            agora em um acalanto
            esperando o clarear do dia.
Nos dedos ágeis do pianista
            o som do lamento,
            quem sabe de dor,
            quem sabe de amor...
(Maura Soares, aos 29.5.1999, 23.57h)

COM A LUA NA JANELA
Neomar Narciso Borges Cezar Júnior

Ainda que a música cesse,
não sairá do meu pensamento
a sonata que acabou de tocar.
O músico já até foi embora,
mas a emoção
permanece no palco,
não à espera de um aplauso,
e sim,
à espera de que eu também vá embora.
Enquanto ela, Pianíssimamente falando,
mexe na cortina da janela,
perde o sono
e faz Poesia,
“quem sabe de dor,
quem sabe de amor.”
Et son non...
et son non est Maura Soares
avec beaucoup d ´élégance.
(in Revista Ventos do Sul, do Grupo de Poetas Livres, n.05, set.1999)
Há um poema que fiz em 2001, que foi traduzido para o espanhol e publicado no alternativo “Juntos” n.8, março-abril, 2001, Año 2”, Buenos Aires, Argentina.
Abaixo, o poema em português e logo em seguida, em espanhol.

ESPEREMOS A NOITE
Esperemos a noite para que ela nos dê guarida;
Que ela nos abrigue com seu manto e,
Antes o que era pranto,
não se transforme em despedida.

Esperemos a noite para nos embriagarmos;
vivermos um amor louco, alucinante
e que em teus braços
eu me sinta realmente tua amante.

Esperemos a noite, ainda que
lá fora a lua não esteja
e o amor, embora na incerteza,
chegue antes que ela termine.

Esperemos a noite para nos aconchegarmos
e juntarmos nossos suores,
nossos beijos e unidos ficarmos
no abraço mais longo que pudermos.
Maura Soares
Aos 06.05.2001 – 12.20h

ESPEREMOS A NOITE
(traducción – Carlos)
Esperemos la noche
para que ella nos de resguardo
que ella nos abrigue
con su manto y,
antes que el alba
no se transforme en despedida.

Esperemos la noche
para embriagarnos;
viviremos un amor loco, alucinante
y que en tus brazos
me sienta realmente tu amante.

Esperemos la noche
ahora que allá afuera la luna no está
y el amor, se va incierto,
y llegue antes que ella termine.

Esperemos la noche
para mimarnos
y juntar nuestros sudores,
nuestros besos y unidos quedarnos
en el abrazo más longo
que podamos.
(Maura Soares, Florianópolis, SC)

Mais um amigo comparece com seu trabalho neste meu espaço que, como uma boa mãe, acolhe aqueles que fazem da literatura o modo de expressar-se. Falo do poeta catarinense Emanuel Medeiros Vieira, amigo do coração.

LEMBRANDO ANTIGOS PROFESSORES
(Ensinamentos para se enfrentar a mediocridade reinante)
            EMANUEL MEDEIROS VIEIRA
            Os poetas, como os cegos, enxergam na escuridão.
            Hoelderlin já  nos ensinava: “O que permanece, fundam-no os poetas.”
            Alphonsus de Guimaraens Filho escreveu: “Se não for pela poesia/como crer na eternidade?”
            Numa mensagem, meu amigo Ronaldo Cagiano, confessa: “Um minuto no túmulo de Balzac, uma tarde à beira do Sena ou um café n’A Brasileira, onde sentou Pessoa, me ensinam mais que todas as religiões e filosofias.”
            Kafka já dizia: tudo o que não é literatura me aborrece.
            Complementa Cagiano, o colega escritor: Não tenho medo de andar contra a corrente. A vida não é feita de adesões ao política, estética e culturalmente correto, mas ao que tem dimensão onírica, humana e solitária. E isso não dá votos, nem resenhas na Folha.”
            O mais difícil – nos tempos em que se confunde uniformidade com igualdade – é  permanecer fiel a si mesmo.
            Há uma espécie de robotização, de mediocrização,  em favor do gosto “médio”, para que não se veja além.
            Mesmo com recursos tecnológicos, as imagens que circulam, no geral, são veiculadas apenas para vender, e o lixo dominical da TV aberta é a prova maior do que se quer dar para o rebanho.
            É uma espécie de idiotização da mente.
            Mesmo sabendo que o ser humano, em sua maioria, tende para a mediocridade e para o conformismo, a banalização dos valores e da vida só não espanta as consciências mais resignadas.
            Insisto: é preciso ter disciplina, um projeto, e correr atrás dele, sem buscar álibis ou desculpas pelas dificuldades enfrentadas, evitando a auto-comiseração ou o fácil papel de vítima.
            Por- que se escreve?
            Porque – segundo Memo Giardinelli  – só a arte e a literatura podem redimir o gênero humano, com mais tendência à mediocridade que ao talento.
            Não tenho outro poder, senão o de buscar dizer a verdade diariamente naquilo que escrevo.

            Um professor humanista, no curso Clássico (e não tínhamos ainda 20 anos), já advertia, quando percebeu o meu interesse e de outros colegas pela literatura e pela arte:
            Não textualmente –  assim, não coloco aspas –, ele dizia o seguinte: Preparem-se. Sigam em frente. Mas não vai ser fácil. Quase tudo conspirará contra vocês. Os fundamentos da mediocridade e da defesa da existência leviana, vazia são muito fortes e estão enraizados na sociedade.
            Só querem que valha o que dá dinheiro.
            Mas não, nunca desistam. Alguns, antes dos 40, já terão vendido a sua alma. Não importa.
            Só os iluminados chegarão mais longe. Mas com a consciência que sempre haverá pedras no caminho.
            Vocês terão instantes tão belos e intensos, que eles compensarão  as mesquinharias, a inveja, a tendência de muitos de querer destruir aquilo que não conseguem para si mesmos. É a tendência de achar que dando cotoveladas no outro (naquele que se inveja), o invejoso se destacará.
            Ou, em outras palavras: não faço, mas não quero que ninguém faça.
            É a prevalência dos baixos instintos: inveja, ciúme, posse.
            Mas o iluminado é maior que isso.
            Quando penso nesse querido mestre, lembro-me das palavras de Carlos Castañeda:
“Sabemos que nada pode temperar tanto o espírito de um guerreiro quanto o desafio de lidar com pessoas intoleráveis em posições de poder.”
(Salvador, fevereiro de 2011)

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

AS LÁGRIMAS QUE EU CHORO(*)

As lágrimas que eu choro, sim, são minhas,
quando sinto a indignação tomar conta de mim
ante a hipocrisia dos homens.

As lágrimas que eu choro, sim, são minhas
quando vejo governos após governos, se
locupletarem e não acolherem os órfãos nas
ruas, os drogados, os sem-teto, os sem-terra,
os sem-educação.

As lágrimas que eu choro,sim, são minhas
quando vejo o desmatamento,
a poluição dos rios,
a destruição da fauna
e,impotente, não consigo
lutar contra este estado de coisas.

As lágrimas que eu choro, sim, são minhas,
quando vejo o ser amado partir
por descaso de médicos incompetentes
que não lhe deram assistência
no momento devido.

As lágrimas que eu choro, sim, são minhas
quando me ajoelho e peço perdão a Deus
pela minha iniqüidade,
pela minha falta de luta,
pela minha involuntária falha
em não amparar aquele que sofre.

As lágrimas que choro, sim, são minhas
e peço ao Senhor
PERDÃO!!!
hoje e sempre.
(Aos 20/5/2008 - 12:35h-terça-feira)
(*)Inspirado em poema de Geraldo Pereira Lopes, o Simplesmente Poeta, intitulado “As lágrimas que eu choro”

Este poema foi o releitura do meu "Com as letras" que fiz algumas versões. O poetamigo Edy Leopoldo assim escreveu:

COM AS LETRAS ( I )
DE TEU NOME...

                                                 Edy Leopoldo Tremel

Com teu nome escreves rua,
O que dá no que pensar,
O mistério de teu nome,
Tenho que adivinhar.
  
Ouço os pássaros cantando,
Há amor em seu trinar;
E, do mar, escuta as ondas,
Na praia a se debruçar.

São mensagens que o vento
Chega para sussurrar
Que escondido no teu nome,
Algo tem pra revelar.

Nem a esfinge de Gisé
Saberá bem decifrar
A verdade do mistério
Que ora  cuido de encontrar. 

Pois, também,  Soa  nos  ares
Da poetiza, a brilhar,
Nas letras do nome M a u r a,
Procuro e encontro o verbo amar!

Florianópolis, 02 de junho de 2008.                      

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

CARINHO NÃO SE PEDE

Muitos homens tem a doce ilusão que ao pedir um carinho, esteja recebendo sinceridade.
Nas mais das vezes a mulher, se for a companheira, a esposa, a mulher, a dona de casa, lhe retribui para ficar livre do pedido. Não raras vezes ela está é preocupada com as tarefas que tem que desempenhar nas lidas domésticas.
Assim acontece com muitos casais,  sobretudo com aquelas relações já desgastadas pelo tempo de união. Há casais, no entanto, cujo carinho é diário embora o casamento esteja durando mais de 5 décadas. Já observei casais que são uns pombinhos até na terceira idade, pois o que os levou à união não foi a paixão e sim o Amor.
Amor, este sentimento divino que une os corações.
Amor, cantado em prosa e verso, é confundido com relação sexual, no dizer “vamos fazer amor”. Amor não se faz, Amor é, Amor se completa, Amor se conquista com o carinho, com a compreensão, com o perdão.
Principalmente com o perdão, se um deles erra. Há um ditado antigo que diz que quando um dos dois erra, o outro nunca é inocente.
Há que se rever este conceito. Muitas vezes o homem tem a expectativa de que a mulher não mude, que fique igual em sentimento como quando a conheceu. Mas todos mudam nas suas concepções, principalmente quando se segue a evolução do tempo.
Aquele fogo abrasador do início da relação dura, quando não muito, um ano e sete meses, já ouvi um especialista em relações amorosas falar. Procurei investigar e tive a constatação. Paixão, como se diz, dura pouco.
Depois, a paixão, na relação a dois, com o passar do tempo, dá lugar ao verdadeiro Amor, à compreensão, ao carinho, à ajuda mútua, a um querer compartilhar as tristezas, dividir a dor, unir o trabalho, juntar as alegrias, caminhar lado a lado olhando um para o outro e os dois numa mesma direção.
Carinho não se pede, diz o enunciado deste artigo que me vem de inspiração. Tenho presente este preceito que não se deve  mendigar amor. Quem quiser mendigar “amor” há casas e pessoas especialistas para satisfazer esta expectativa.
Nada como o dia a dia para inflamar um relacionamento.
A vida nas grandes cidades requer das pessoas a paciência, a calma, mas é coisa um tanto difícil de o homem ou a mulher que tem que enfrentar um trânsito confuso, chefes de mau-humor, intempéries, enfim, uma gama de fatores que só com muita, muita paciência mesmo, o individuo chega ao final do dia agradecendo a Deus pelo trabalho desenvolvido e o que mais deseja é chegar em casa, assistir um bom programa na TV ou ficar quieto ouvindo música, tendo o seu jantar e o carinho da pessoa amada.
Porém quando o home m chega em casa após um dia em que tudo pareceu ter dado errado, -  na sua concepção, claro - ,  chega e encontra a cara-metade com cara azeda e nem pergunta “como foi seu dia”, quando a expectativa era outra, o sentimento de frustração aflora e pode até acontecer uma discussão sem necessidade.
Aí é que o Amor é posto à prova. Aí é que reside o companheirismo, o afeto, o desejo de compartilhar.
Há uma frase que diz “eu não posso resolver o teu problema, mas quero ficar ao teu lado e chorar contigo”.
Esta é a verdadeira afeição. Cada qual tem o seu quinhão de cargas a suportar. Deus nunca dá uma carga maior pra ninguém, somente até o limite do suportável.
Que ninguém esbraveje, que todos até agradeçam as dificuldades, pois são através delas que o homem evolui se souber como tratá-las, se souber fazer a leitura de que se está recebendo um contratempo, esta dificuldade tem sua razão de ser.
A cada qual segundo suas obras, diz o preceito divino.
Ninguém pode culpar os outros de suas desditas. Nós somos responsáveis por tudo o que fazemos, desde o levantar da cama pela manhã até o findar do dia, quando as tarefas foram cumpridas, quando o individuo contribuiu de alguma forma para a sua elevação espiritual.
Ninguém deve mendigar amor, repito, isto se conquista em sendo bom, em sendo compreensivo, em sendo honesto, em sendo trabalhador, em não trair seu companheiro de trabalho, em ser fiel aos seus sentimentos para com a pessoa amada, em procurar através do estudo, da leitura de bons livros, o conhecimento intelectual na escalada da evolução.
Amor é isso, é dar e receber. Não se atiram pérolas aos porcos, pois eles não saberão o que fazer com elas. Não se deve dar somente coisas materiais aos seus filhos, aos seus esposos e esposas, pois se você não der um minuto de sua atenção até numa simples pergunta, tudo o que você deu de material cai por terra.
Amar é entender. Amar é, sobretudo, perdoar todas as faltas e, no passar do tempo fazer com que a pessoa amada se sinta rejuvenecida a cada dia com o seu carinho e a sua compreensão.
Amar o Amor. Esta é a Lei.
Maura Soares, aos 23 de fevereiro de 2011, 15.00h.             

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

DESOLAÇÃO
E o cansaço tomou conta do poeta.
Sentou-se na beira da cama.
Desolado, colocou as mãos no rosto.
Um soluço ficou preso na garganta.
Onde está a mulher que jurou amá-lo?
Onde estão aqueles olhos ternos,
aqueles beijos cálidos,
aqueles afagos,
aqueles entrelaçamentos de pernas?
Para onde foram as carícias?
Sabendo as respostas, mas sem admiti-las,
o poeta ficou a cismar a separação.
Inevitável.
Embate de egos. Nenhum cedeu.
Separação.
Porque a angústia?
Por que este grito ainda preso na garganta?
Levantou-se, boca amarga,
gosto de dor, desolação.
E agora? Nada mais importa.
...
Espanto de transeuntes.
Só o som do corpo destroçado na sarjeta.
Maura Soares
Aos 21 de fevereiro de 2011, 23.10h

ENSAIO SOBRE O SONETO "TORTURA", DE FLORBELA ESPANCA

Caros amigos que lêem este meu Blog.
Apreciem, como eu apreciei demais e fiquei encantada, a Releitura  do soneto da poetisa portuguesa Florbela Espanca, intitulado “Tortura”.
Os amigos que assinam a releitura são  poetas de Portugal, entre eles o nosso conhecido associado do Grupo de Poetas Livres – António José Barradas Barroso (Tiago) – com Eugénio de Sá, Odir, de passagem(este de João Pessoa, Paraiba) e a poetisa Carmo Vasconcelos.
Com o título de
“Ensaio sobre a poesia de Florbela Espanca”  os sonetos enriquecem sobremaneira este meu espaço que fiz pra divulgar meus escritos e os escritos dos amigos, de qualquer nação.
 
Tortura
 
Tirar dentro do peito a emoção,
A lúcida verdade, o sentimento,
- E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!

Sonhar um verso d alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
- E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento!

São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!
( Florbela Espanca - In Livro de Mágoas)


Respondendo a Florbela
(Tortura)
 
Não se esvazia assim esse teu pranto
Com um sopro de vento, um temporal
Mas tenta um verso puro, talvez santo
Que o que é santo é do bem, renega o mal


Esquece a altura a que possa subir
Um pensamento nobre em verso posto
Que o importante é não deixar cair
Um sorriso fugaz nesse teu rosto


E vê; nada há de rude nos teus versos
Que a tristeza é demais e a solidão
Conta de ti efígies e anversos

E não percas na rima a solidão
Que sem ela o poeta perde o amplexo
De que se serve a sua emoção.
Eugénio de Sá - 2009  


Tortura
Odir, de passagem.

Gritar o grito que minh'alma anseia,
chorar o pranto que meu peito chora...
- E ver o verso vago em minha veia,
sentir que a voz do grito o apavora!

Buscar a rima de coragem cheia,
desarraigar a dor sem mais demora...
- E ver a musa à minha febre alheia,
a fugir do furor que me devora!

Ah, se meu verso versejasse a vida!
Ferisse, a ferro e fogo, o fel da fome,
ao fraco afortunasse a fé perdida!

Mas seja o rumo que meu verso tome,
a sua voz jamais será ouvida:
É verso de poeta inda sem nome!
JPessoa/PB - 18.02.2011
Oklima
     
Tortura
Carmo Vasconcelos

Como arrancar do imo o sentimento,
Calcá-lo aos pés, tornado pó informe,
Fazê-lo assim volátil como o vento,
Como se mero grão - se ele é enorme?

Como calar o grito apaixonado,
Na pauta dar ao Sol , nota silente,
Roubar ao rouxinol o seu trinado,
Como se moribundo se é vivente?

Como entendo, Florbela, o teu tormento,
A mágoa que te assalta o coração,
Quando ao verso te entregas com paixão

Buscas no verso puro o lenimento.
Quem dera eu não esbarrasse nesse muro,
E pudesse ofertar-te o verso puro!
 Lisboa/Portugal
18/Fevº/2011


Companhia
António Barroso (Tiago)
 
Florbela, conterrânea, companheira,
Infeliz pelo tanto que te deste,
Regavas o amor, à tua beira,
Com lágrimas do muito que sofreste.

Pudera eu achar mágica maneira
De ter vivido o tempo em que viveste,
Seria dedicar-te alma parceira,
Confidente amiga que não tiveste.

E então, talvez o amor fosse alegria
Florescendo em jardim de fantasia
Com pétalas brilhando à luz da lua.

De mãos entrelaçadas, caminhando,
Terias sossegado, repousando
No conforto duma alma gémea tua.
 19/Fev/2011


         D E S E N C O N T R O


            Eles se conheceram em uma cidade do interior.
            Ela, médica, desquitada, um casamento fracassado sem causa aparente, apesar de um ser humano fantástico!
            Teria sido seu gênio forte ou seu ex-marido que não a conhecia e em conseqüência não soube conviver bem a seu lado?
            Mulher madura, já dentro dos quarenta e poucos anos, lutando bravamente para sobreviver, uma vez que a profissão não era das melhores em termos financeiros.
            Ele, engenheiro, fazendo serviços para uma Empreiteira, em segundas núpcias, já passando dos cinqüenta anos e apregoando aos quatro ventos ser muito feliz no seu segundo matrimônio. Talvez, sem querer admitir, mas estivesse infeliz e carente.
            Saíram pela primeira vez, conversaram muito, tomaram vinho, degustaram uma boa e bem feita pizza e na despedida, um beijo na boca, parecendo sem maiores conseqüências.
            Voltaram a se ver. Pintou “cama” e tornaram-se amantes!
            Apaixonaram-se loucamente e se amavam como dois adolescentes!
            Ela, sendo médica, preocupava-se sempre com a saúde de seu amor, uma vez que ele morava em outra cidade, bem distante dali.
            Viam-se algumas vezes por mês e sempre ela sugeria que era importante que tivessem uma pessoa amiga, comum aos dois, para dar notícias e saber dele, quando ausente.
            Dizia ela: -- “Podemos adoecer e como vamos fazer para que um saiba do outro?”
            Ele sempre prometendo providenciar alguém!
            Certo dia, não deu mais sinal de vida. Teve um derrame e veio a falecer, sem que ela soubesse!
            Os dias se passavam e ela cada vez mais sofrida, desesperada e se achando abandonada. Sofria a olhos vistos!
            Fora abandonada pelo único homem que realmente a fizera feliz!
            Foi ele quem a fez sentir o prazer do sexo, o orgasmo, pela primeira vez em sua vida!
            Ele, em verdade, fora seu primeiro e único homem, pois com o ex-marido, sexo servira para perpetuar a espécie, por sinal, dois filhos que ela amava e dava a vida por eles!
            O tempo passou! Ela envelheceu! Fechou-se como uma concha! Nunca mais quis saber de outro homem, nunca mais se entregou, nunca mais amou, até o final de seus dias!
            Morreu se sentindo enganada, sem saber que fora amada até os últimos momentos pelo seu engenheiro que, no estertor da morte, balbuciara seu nome, sem que ninguém pudesse entender!

(Escrito por Arnaldo, em setembro de 2003).
(postado por Maura)


sábado, 19 de fevereiro de 2011

Revendo meus textos--como não publicaram no jornal quando eu enviei, não posso deixar de publicar aqui, neste meu espaço.

CALÇADAS DO CONTINENTE
- SÓ COM IRONIA –

Ah, como são belas as calçadas do continente, principalmente as dos bairros Abraão, Bom Abrigo, Itaguaçu e seguindo até a ponte.
Pintor nenhum pintaria com tanta maestria os buracos; engenheiro nenhum edificaria as caídas, ou seriam rampas?
Ninguém pode avaliar como são belos os trechos para deficientes visuais com lindos postes no meio, alguns ocupando quase toda a estreita calçada.
Os cadeirantes estão maravilhados, pois podem realmente descer nas mini-rampas maravilhosamente construídas e, antes, telefonar pro Samu, pois a queda é inevitável. Que maravilha!!!
Subindo do Abraão, me maravilho com as calçadas perto de um bar na esquina da rua Fernando Ferreira de Mello, com os pedregulhos soltos prontos para se pegar e jogar o joguinho da minha infância: 5 Marias (ou seriam 7?)
Ah, e as faixas de pedestres, hein? Sempre estão pintadas em lugar onde não tem caimento na calçada em ambos os lados, em curvas, uma beleza!!! Mas não me preocupo, pois se estão apagadas, chamo o Super-homem com sua visão de Raio-X para auxiliar.
Maravilhoso é passar por casas cujas entradas para carro nos fazem sentir como alpinistas e quem se atreve a andar sobre elas, fatalmente ganha joelho e tornozelo torcidos, mas não tem problema, pois na área reside um excelente massoterapeuta que coloca tudo no lugar.
Ah, e nos dias de chuva, então, nem imaginar a delícia de passar por cima delas! Ninguém pode imaginar a delícia que é.
Como é gostoso caminhar pela manhã observando estas maravilhas. Tenho vontade de convidar um curador e organizar uma exposição fotográfica que posso até ajudar no título: “Calçadas imaginadas, calçadas construídas”.
Continuo repetindo Nelson Rodrigues: “Tenho inveja da burrice, pois ela é eterna!”
Abraços
Maura Soares (05.08.2010)
Florianópolis,SC

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

OSVALDO FERREIRA DE MELO
O HOMEM E SEU TEMPO

Mais um amigo que nos deixa. Osvaldo Melo faleceu em 17 de fevereiro. Compositor, Músico, Poeta,  Acadêmico, Professor, Escritor, Secretário de Educação, Presidente do Conselho Estadual de Cultura, Supervisor de Planejamento e Orçamento do Governo do Estado, essas algumas facetas do Osvaldo Ferreira de Melo que eu conheci, pois convivi como Secretária de seu gabinete no Conselho Estadual de Cultura e na Supervisão de Planejamento e Orçamento. Também foi meu professor de Português no Curso Clássico, do Instituto Estadual de Educação.
Discreto em suas ações, jamais levantava a voz para seus subordinados. Dava o exemplo de trabalho e competência.
Em 2010, a Academia Desterrense de Letras indicou seu nome para ser homenageado na primeira sessão conjunta entre a Academia e a Câmara Municipal de Florianópolis, por força da Lei 7986/2009, de 13 de outubro de 2009, que assinala o dia 28 de maio como “Dia do Escritor no Município de Florianópolis”.
Na ocasião fui a oradora oficial, assim entendido pelo presidente da ADL, Valter Manoel Gomes, por eu ter tido a convivência com Osvaldo por tanto tempo.
Era, também, meu confrade no Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina.
Colaborei com ele algumas publicações, digitando seus escritos.
Sempre tive um carinho especial para com este homem extraordinário que me introduziu ao conhecimento da Doutrina Espírita, também pelo exemplo.
Na Revista Ventos do Sul n.34/2010, do Grupo de Poetas Livres, fiz homenagem a ele, pois havia completado 80 anos em 2009. É praxe do Grupo homenagear escritores em páginas especiais.
Quando tive que sair do Conselho Estadual de Cultura para assumir a Supervisão do Colégio Joaquim Santiago, 1987-1988, fiquei afastada de Osvaldo, mas não do trabalho com ele, em função das digitações.
Há dois bancos na Praia de Itaguaçu com trechos de suas Canções Praieiras cantadas diversas vezes por muitos corais do Estado. O projeto “Poesia na Praça”, do Grupo de Poetas Livres homenageia poetas catarinenses.
Quase 40 anos de conhecimento desde os bancos escolares. Osvaldo marcou minha vida com seu carinho, sua atenção, seu espírito empreendedor, sua capacidade de planejamento.
Cito um trecho de sua obra Introdução à História da Literatura Catarinense: “... A lâmpada tem que ser colocada acima do nódio, e é mister que se remexam os arquivos, que se faça qualquer movimento que descongestione os intelectuais das absorventes atividades político-partidárias, que desperte os estudiosos...mas é preciso desaparecer a vaidade que torna ridículo o homem realmente culto e que chama atenção para os medíocres; bem como aquela modéstia doentia de Kafka, que o fez rasgar vários escritos, para que ninguém lhe perturbasse o pudor”.(...)
Osvaldo trabalhou em diversos governos, sempre solicitado por sua competência, nunca por filiação político-partidária.
Agora a Pátria Maior vai usufruir do seu dinamismo.
Mais uma Luz  brilha no Firmamento.
Prof. Maura Soares –
maurapoeta@gmail.com

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

COM A LUA NA JANELA

Em meio as tarefas para dar conta antes de recomeçar pra valer as atividades nas instituições culturais as quais pertenço, deparo-me com o cair da noite, com a lua na minha janela.
Ato contínuo, saquei a máquina e procurei um ângulo melhor para fotografá-la e marcar o dia e extravasar meu sentimento, minha emoção.
Muitos a tem cantado, em prosa e verso, mas o sentimento quando a pessoa a olha é diferente para cada um.
Ela é única e múltipla para cada pessoa que a observa.
Lua, moon, luna, seja qual nome em cada idioma, é sempre lembrada e cantada.
A chuva hoje deu uma trégua bem na noite em que ela começa a ficar majestosa.
Às 20.30h o céu ainda estava de um azul quase ficando escuro.
Cinco minutos depois quando coloco as fotos no sistema do computador, ela já se destaca na noite escura.
Com a lua na janela, teço versos
Com a lua na janela, lembro-me do meu distante amor
Com a lua na janela, envio telepaticamente um beijo a ele
Com a lua na janela, enamoro-me da vida
e encanto-me e agradeço pelo dia, pelas horas,
pelos momentos
em que tive o prazer de poder apreciar esta maravilha da criação,
como deve estar acontecendo com outras pessoas que, também,
com a lua em suas janelas, fazem versos de amor.
Nada mais direi, pois ela está a iluminar o quarto.
Vamos deixá-la quieta a nos encantar, enquanto Joanna canta Lupicínio.
Maura Soares
Aos 16 de fevereiro de 2011, 20.45h – horário de verão.